O trabalho e o homem

O conceito de trabalho é bastante amplo e depende muito do contexto histórico- social que estamos analisando. Na antiguidade o trabalho manual era visto como algo negativo e ficava reservado aos escravos e servos, enquanto os ricos realizavam o trabalho intelectual e desfrutavam dos prazeres da vida. Esse pensamento não mudou muito durante a Idade Média. O trabalho era um artifício pelo qual podia-se pagar pelos pecados da carne e a servidão era justificada pela ordem divida.

É no início da Idade Moderna, com o Renascimento e a Reforma Protestante que o trabalho começa a ser valorizado e visto como algo positivo. O lucro, que antes era condenado, passa a ser visto como algo bom. O enriquecimento é justificado como fruto do esforço pessoal e da graça de Deus – uma ideia que agrada muito a burguesia da época. Essa concepção é muito importante e serviu como fundamento para o conceito de acumulação do capitalismo.

Até o fim da Idade Média, o trabalho podia ser visto como algo extenuante, mas o trabalhador tinha controle do planejamento e execução das tarefas. Com o surgimento das máquinas e dos modelos de produção capitalista, o homem fica cada vez mais distante do fruto do seu trabalho. Além do esforço físico desgastante, o trabalhador realiza uma tarefa isolada e não reconhece valor naquilo que produz. Essa exploração do trabalho é bastante criticada e dá origem a novas teorias, que irão servir de base para uma nova visão do trabalho.

No modernidade, surge o conceito de emprego. O trabalho é regulamentado e normatizado e passa a ser o centro da vida do homem. O emprego é a forma universal de compensação financeira (na sociedade do consumo é preciso consumir), além de possuir caráter social. Um conceito muito adotado nos dias de hoje é do trabalho como processo pelo qual o homem, através do uso da técnica, transforma a natureza e cria algo útil.

Para a maioria das pessoas, o trabalho é algo dignificante. Infelizmente, não para todas. Como podemos nesta matéria, é absurdo o número de pessoas que, ainda hoje, trabalham em condições semelhantes ao trabalho escravo. Segundo a reportagem, “o Brasil contabiliza 46.478 trabalhadores libertados em condições análogas à de escravos desde 1995, ano em que os grupos móveis de fiscalização passaram a atuar no país” e que “só no ano passado, quando foram comemorados os 125 anos da Lei Áurea, 2.063 pessoas foram resgatadas, de acordo com números do Ministério do Trabalho e Emprego, o que representa uma média de mais de 5 pessoas por dia”.

A escravidão contemporânea é diferente daquela praticada até o final do século XIX, onde um homem tinha propriedade sobre outro, mas é tão abominável quanto, por tirar do ser humano sua liberdade e sua dignidade.

Por Guilherme Wachholz

escravo

anexo: http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/05/brasil-registra-46-mil-trabalhadores-libertados-em-condicao-de-escravos.html